Habilidades en Salud Mental - Lógica Relacional Humana E Conceitos De Comunicação [II]

Adaptado de "Habilidades en Salud Mental", edição de Março de 2005, por JA Barbado Alonso, JJ Aispiri Diaz, PJ Cañones Garzón, A Fernández Camacho, F Gonçalves Estella, JJ Rodríguez Sendín, I De la Serna de Pedro, JM Solla Camino.
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[imagem: Seagram]




DIMENSÃO PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO


Por PRAGMÁTICA COMUNICACIONAL entendem-se os efeitos e influências que a comunicação produz na conduta.

O chamado Grupo de Palo Alto foi o pioneiro desta perspectiva ao elaborar uma série de regras ou axiomas.

A IMPOSSIBILIDADE DE NÃO COMUNICAR

Não há nada contrário à conduta. Não existe a não-conduta. Toda a conduta [em situação de interacção, de intercâmbio] é mensagem. Falar ou estar calado, mover-se ou permanecer quieto, têm sempre o valor de mensagem. Na relação interpessoal é impossível não comunicar. Um passageiro de comboio de olhos fechados pode estar a indicar-nos que não lhe falemos; um paciente histérico mostra-nos a discordância entre as suas mensagens verbais e a expressividade do seu corpo, dos seus sintomas corporais; o paciente com inibição catatónica indica-nos a negação à comunicação. Todos os exemplos acima nos indicam uma mesma coisa: apesar do que pretendamos, não podemos evitar comunicar.

OS NÍVEIS: INFORMATIVO E RELACIONAL

O aspecto conteúdo de uma mensagem é o que transmite informação. O aspecto racional faz referência a que tipo de mensagem deve entender-se, refere-se à relação entre os comunicantes. A mensagem "vem cá" dita em tom imperativo ou dita em tom amistoso, embora sendo a mesma informação, mostra dois tipos de relação diferentes: uma de subordinação, a outra de igualdade ou simetria.

OS CANAIS: DIGITAL E ANALÓGICO

O digital refere-se à comunicação verbal e o analógico é constituído pelos gestos, a postura, o tom e a cadência de voz, o ritmo e, em geral, por todo o cinésico. É muito importante considerar a existência de incongruência entre estes dois canais. Por exemplo: uma frase agressiva ["odeio-te"], dita em tom cordial, tem significado diferente se for acompanhada de um componente analógico diferente.

AS INTERACÇÕES: SIMÉTRICA E COMPLEMENTAR

Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo estejam baseadas na igualdade ou na diferença. No primeiro caso, os participantes tendem a igualar a sua conduta recíproca. A um movimento X de A segue-se um movimento X de B. Por exemplo: Escalada, competições desportivas, discussões conjugais... A característica deste tipo de relação é que cada participante tenta impor as suas próprias regras de jogo. No segundo caso há duas posições diferentes: um ocupa uma posição superior ou primária, o outro a inferior ou secundária. Por exemplo: sádico-masoquista, amo-escravo, professor-aluno, médico-paciente... O importante é que nestes casos cada membro aceita de bom grado a posição do outro.

PONTUAÇÃO DA SEQUÊNCIA INTERACTIVA

Uma interacção é uma sequência ininterrupta de comunicação. A pontuação refere-se à forma como esta se organiza, onde começa e onde acaba, quem e o que se interpreta do processo interactivo; é um processo aleatório. Como seres humanos organizamos, pontuamos a complexidade da realidade numa tentativa de apreendê-la, de controlá-la, de domesticar a sorte. Mas esta pontuação é aleatória e consensual. Por exemplo: dia-noite é um processo natural, ininterrupto, circular; no entanto, criamos unidades de tempo [horas, minutos, segundos] e decidomos que o ponto de inflexão de um dia para o outro seja a meia-noite. Nos processos de comunicação humana outro exemplo é uma seta, onde a conduta de um membro se pontua como líder e a dos restante de adeptos. A origem de muitos dos conflitos humanos é a falta de acordo em relação à forma de pontuar. O eninciado-tipo é o de "quem começou primeiro". Exemplo característico é o do alcoólico e sua mulher: ela diz que o controla porque ele bebe, ele dizendo que bebe porque ela o controla.

REDUNDÂNCIA E RUÍDO

Este conceito refere-se à frequência de aparição de configurações de palavras, ideias, de mensagens num sentido amplo, numa sequência comunicativa. Toda a comunicação redundante é significativa, dá-nos pistas sobre a visão do mundo do emissor, permite-nos aceder a esse mundo de uma forma empática. Exemplo: uma mulher infeliz no seu casamento e incapaz de modificar a sua situação, descreve os seus sintomas com redundâncias como "sinto-me atada, prisioneira, sinto como se tivesse um nó aqui...". Atadura, prisão, nó, palavras que ao utilizá-las nos prmitem aceder empaticamente ao seu mundo relacional.

A MENSAGEM DEPENDE DO RECEPTOR

Vimos no início que na teoria da informação se assinalam como elementos da informação o emissor, canal, código e mensagem; mas na comunicação humana existe uma distorção que faz com que J. Lacan chame a atenção para o facto de que "O mal entendido é essencial à comunicação humana", o que se deve a que a interpretação da mensagem depende sempre do receptor. Segundo ele, numa relação nunca devemos dar por entendidas as nossas palavras pela parte do receptor; devemos explorar mais adiante: temos que procurar, ao dirigirmo-nos ao receptor, utilizar palavras unívocas e assegurarmo-nos que este entendeu exactamente aquilo que queríamos transmitir.

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