CJT - Linguagem e [Inter]Subjectividade

ver "Pragmática da Comunicação [I]"

Poderíamos considerar a linguagem como o melhor instrumento do Homem para comunicar. A prestação da mensagem enquanto instrumento de comunicação provoca no interlocutor [e no emissor] um comportamento adequado ao que foi transmitido. Neste contexto podemos considerar que "o comportamento da linguagem admite uma descrição behaviourista em termos de estímulo e resposta". [1]
Não devemos, no entanto, confundir linguagem com discurso. O discurso pode ser considerado como a linguagem posta em acção, necessariamente entre parceiros. O papel de transmissão de uma mensagem pode ser desempenhado por meios não-linguísticos.
Falar da linguagem como instrumento é, assim, redutor. Um instrumento é algo externo ao Homem, coloca-o em oposição à Natureza. "A linguagem está na natureza do Homem, que não a fabricou".[1]
Ver o Homem como um ser separado da linguagem, procurando, ele próprio, conceber a existência do outro, é algo que não faz sentido. O que encontramos é um Homem que comunica, um Homem que fala com outro Homem. "A linguagem ensina a própria definição do Homem".[1]
Dissociar a linguagem do Homem ao considerá-la um instrumento torna-se suspeito, embora a função da linguagem enquanto objecto de troca entre dois parceiros possa levar a essa definição. Devemos, no entanto, ter em conta determinadas características desta que a tornam em algo mais que isso: a sua natureza imaterial, a sua organização articulada, o seu conteúdo. Se queremos falar de instrumento por remetermos a utilização da linguagem como objecto, devemos considerar como tal, antes de mais, a palavra.
Para que a palavra veja essa função instrumental assegurada, para que assegure a comunicação, deve estar habilitada a tal pela linguagem, de que é apenas a actualização, linguagem que confere à palavra a condição dessa aptidão.

A realidade do Homem, a sua realidade que é a do ser, só encontra fundamento na linguagem. É esta que fundamenta a constituição do Homem como sujeito, o seu ego. A subjectividade de que aqui se fala não se trata do sentimento de cada um ao experimentar ser ele mesmo. Esta subjectividade trata-se da capacidade do locutor em propor-se como sujeito. Trata-se da "unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas, que reúne e que assegura a permanência da consciência"[1], não é mais que a verificação de uma propriedade fundamental da linguagem intrínseca ao próprio ser. "É ego que diz ego".[1] O fundamento da subjectividade é determinado pelo status linguístico da pessoa.

O emprego do eu é somente possível quando nos dirigimos a alguém, o tu. Esta constatação relaciona-se com o facto de a consciência de si mesmo ser apenas possível por contraste - é constitutiva da pessoa pois implica reciprocidade: eu sou o tu na alocução do que se designa por eu.

"A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito, remetendo a ele mesmo como eu no seu discurso. Por isso, eu propõe outra pessoa, aquela que, sendo embora exterior a 'mim' torna-se o meu eco - ao qual digo tu e que me diz tu. A polaridade das pessoas é na linguagem a condição fundamental, cujo processo de comunicação, de que partimos, é apenas uma consequência totalmente pragmática". [1]
Esta polaridade apenas existe na linguagem. Não significa igualdade nem simetria, o ego tem sempre uma posição de transcendência em relação a tu. Nenhum dos termos é concebível sem o outro - são complementares numa oposição interior/exterior e, ao mesmo tempo, reversíveis. Não se trata de uma dualidade ou antinomia, trata-se antes de uma dialética. "Única é a condição do Homem na linguagem". [1]
O fundamento linguístico da subjectividade descobre-se numa realidade dialética que engloba os dois termos [eu e tu] e os define pela sua relação mútua.

A linguagem é de tal forma marcada pela subjectividade que nos perguntamos se poderia existir sem esta. A utilização dos pronomes pessoais é disso exemplo: entre os signos de qualquer língua, de qualquer tipo, região ou época, estes surgem sempre. "Uma língua sem expressão de pessoa é inconcebível".[1]

A distinção dos pronomes de qualquer outra designação que a língua articula é notória: não remetem nem a um conceito nem a um indivíduo. O conceito eu não engloba todos os eu que são enunciados a todo o instante por todos os interlocutores. O eu não denomina nenhuma entidade lexical. Assim, estamos na presença de algo muito singular: não sendo admissível que o mesmo termo possa referir-se, ao mesmo tempo, ao locutor e aos restantes individuos, os pronomes pessoais enquadram-se numa classe aparte de todos os outros signos linguísticos - refere-se apenas ao acto de discurso individual no qual é pronunciado e designa o locutor desse acto. A sua singularidade é determinada pelos seguintes factores: o eu apenas pode ser identificado dentro do acto de fala; é pelo discurso, pelo exercício da língua, que o sujeito se constitui como tal [não existe subjectividade sem linguagem]; pela forma como é organizada a linguagem, qualquer locutor pode apropriar-se da língua toda, designando-se como eu.
Dos pronomes pessoais dependem ainda outras classes de pronomes, participando no mesmo status. São os demonstrativos, advérbios, adjectivos - indicadores da deixis [ou deícticos] que se encarregam de organizar as relações espaciais e temporais em torno do sujeito. Definem-se apenas com relação à instância do discurso na qual são produzidos, sob a dependência do eu.

O domínio da subjectividade amplia-se e chama a si a dimensão da temporalidade, organização linguística da noção de tempo. Embora uma língua distinga sempre tempos [passado e futuro separados por um presente ou presente-passado por oposição a um futuro] a referência será sempre o presente, isto é, o tempo em que se fala. A coincidência do acontecimento descrito com a instância de discurso que o descreve: a marca temporal do presente só pode ser interior ao discurso - o tempo em que se está é o tempo em que se fala, esse é o momento eternamente presente. "A temporalidade humana com todo o seu aparato linguístico revela a subjectividade inerente ao próprio exercício da linguagem". [1]
Assim, temos que se a linguagem é a possibilidade da subjectividade, o discurso provoca a emergência da subjectividade. É assim porque a linguagem comporta as formas linguísticas necessárias à expressão, ao passo que o discurso consiste de instâncias discretas, permitindo então a emergência dessa subjectividade: as formas vazias propostas pela linguagem são apropriadas por cada locutor no exercício do seu discurso que as refere á sua pessoa - define-se assim como um eu e ao seu parceiro como um tu.

"A instalação da 'subjectividade' na linguagem cria na linguagem e, acreditamos, igualmente fora da linguagem, a categoria da pessoa". [1]
Podemos ainda verificar a influência da subjectividade na organização das formas ou na relação de significação. Tomando como exemplo a mudança da forma verbal ['eu como, tu comes, ele come'] esta aparenta não existir uma mudança de sentido. Existe em comum e constante o facto de que a forma verbal apresenta uma descrição de uma acção atribuída, de forma idêntica, a eu, tu e ele. Existem, no entanto, alguns verbos que escapam a essa permanência, denotando disposições ou operações mentais.

Ao dizer "Eu sofro", descrevo o meu estado presente. Dizendo "Sinto que o tempo vai mudar", estarei a descrever uma impressão que me afecta. Se disser "Creio que o tempo vai mudar", a operação de pensamento não é a mesma que o objecto enunciado - converto numa enunciação subjectiva um facto, isto é, "o tempo vai mudar", que é a verdadeira proposição, o que equivale a uma afirmação mitigada.

Verbos como "creio", "suponho", "julgo", são frequentemente seguidos de que + uma proposição: esta é o verdadeiro enunciado, não a forma pessoal que a governa. Mas é essa forma pessoal que lhe confere a subjectividade, dá à asserção que se segue o contexto subjectivo que caracteriza a atitude do locutor em relação ao enunciado que profere. Esta manifestação de subjectividade só tem expressão na primeira pessoa. Estes verbos caracterizam-se pelo facto de darem sentido a um acto individual de alcance social. Não fazem sentido se conjugados na terceira pessoa - esta é a forma do paradigma verbal que remete para uma "não pessoa", referindo-se a um objecto colocado fora da alocução, perdendo o grau de subjectividade. Veja-se "Eu juro" e "Ele jura". O ele caracteriza-se pela oposição ao eu do locutor, formando-se numa não-pessoa. "Eu juro" coloca sobre o locutor a realidade de um juramento. A enunciação em si é um cumprimento - "jurar" consiste precisamente na enunciação "Eu juro" pela qual o ego está preso.
Por aqui se vê que o mesmo verbo, consoante seja assumido por um sijeito ou seja colocado "fora da pessoa", adquire um valor diferente. A própria instância de discurso que contém o verbo representa o acto fundamentando o sujeito - o acto cumpre-se pela instância de enunciação do seu nome [jurar] e o sujeito é apresentado pela instância de enunciação do seu indicador [eu].

"Muitas noções na linguística, e talvez mesmo na psicologia, aparecerão sob uma luz diferente se as restabelecermos no quadro do discurso, que é a língua enquanto assumida pelo Homem que fala, e sob a condição de intersubjectividade, única que torna possível a comunicação linguística.[1]



[1] Émile Benveniste, Problemas de Línguística Geral, S. Paulo, Companhia Editora Nacional, 1976.

CJT - Pragmática da Comunicação [I]

[a partir da leitura de Paula Ramalho Almeida com abordagem a diversos autores]

LINGUAGEM E [INTER]SUBJECTIVIDADE

"a linguagem ensina a própria definição do homem"
Émile Benveniste

Subjectividade
  • Capacidade do locutor para se propor como sujeito
  • Unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas, que reúne e que assegura a permanência da consciência
  • É ego que diz ego
  • Consciência de si mesmo

[Wiki] A Subjectividade é entendida como o espaço de encontro do indivíduo com o mundo social, resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural e que vão constituir a experiência histórica e colectiva dos grupos e populações. A psicologia social utiliza frequentemente esse conceito de subjectividade e seus derivados como formação da subjectividade ou subjectivação.


A subjectividade constitui-se num espaço relacional, aonde a insistência dos modos de percepção irá instaurar a realidade.

  • Consciência de si mesmo: Só é possível por contraste
  • Condição de diálogo: Apenas dizemos eu quando nos dirigimos a um tu

Na linguagem, a polaridade das pessoas é fundamental

  • Esta polaridade apenas existe na linguagem
  • Podemos descrever esta polaridade como uma dialética e não dualidade ou antinomia
  • Consequência: PRAGMÁTICA

[Wiki] Pragmática é o ramo da Linguística que visa captar a discrepância entre o significado proposicional recuperável pela semântica composicional de um enunciado e o significado visado por um falante numa dada enunciação. Estuda os significados linguísticos determinados não exclusivamente pela semântica proposicional ou frásica, mas dedutível de condições dependentes do contexto extra-linguístico: discursivo, situacional, etc.

Coerência Pragmática - Quando um texto tem que seguir uma linha de sentido, ou seja, uma sequência de actos. Não é possível o locutor dar uma ordem e fazer um pedido no mesmo acto de fala. Quando estas condições são ignoradas, constituem incoerência pragmática.

A linguagem é de tal forma marcada pela subjectividade que nos perguntamos se a subjectividade poderia existir sem a linguagem. Uma língua sem expressão de pessoa [pronomes pessoais] é inconcebível.

Os pronomes não remetem nem para um conceito, nem para um indivíduo. O eu não domina nenhuma entidade lexical.

A que se refere, então, eu?

O eu refere-se a algo muito singular: ao acto de discurso no qual é pronunciado e designa o locutor desse acto.

Portanto, ao contrário dos outros elementos linguísticos,

  • O eu apenas pode ser identificado dentro do acto de fala
  • É pelo discurso, pelo exercício da língua, que o sujeito se constitui como tal - não existe subjectividade sem linguagem
  • Pela forma como é organizada a linguagem, qualquer locutor pode apropriar-se da língua toda designando-se como eu.

[Wiki] A teoria dos actos de fala teve o seu início com os trabalhos do filósofo inglês John Langshaw Austin (1911-1960) e foi levada adiante por John Roger Searle (1932-) e, de certa maneira, por Jacques Derrida (1930-2004). Austin faz parte da escola de filosofia analítica de Oxford, cuja fundação é atribuída a Gilbert Ryle, mais especificamente ao seu texto Sistematic Misleading Expressions, e o factor que caracteriza os filósofos desta escola é a análise minuciosa da linguagem, na verdade da linguagem ordinária, ou seja, sob uma interpretação literal. Isto diferencia-os, por exemplo, dos estudiosos do Círculo de Viena, cujos estudos sobre a linguagem se limitavam àquela usada pela ciência.
A
filosofia preocupava-se, tratando-se de linguagem, somente com os enunciados descritivos, isto é, aqueles que descrevem estados de coisas no mundo. São estes enunciados que Frege, Russell, os pensadores do Círculo de Viena e outros estudaram exaustivamente, até o segundo trabalho principal de Wittgenstein demonstrar que a linguagem não se limita a estes enunciados e nem pode ser reduzida ao próprio código linguístico; antes, a linguagem também depende fortemente de convenções sociais de várias ordens. Este trabalho de Wittgenstein lançou a noção de “jogos de linguagem”, que são as configurações necessárias para que um enunciado seja interpretado da maneira pela qual o seu enunciador pretende que ele seja. Este “segundo” Wittgenstein, apesar de carecer sobremaneira de uma sistematização, tem, no entanto, como grande mérito abrir estas questões para que outros filósofos as tratassem de uma maneira mais sistematizada e coesa, passando agora o sentido de um enunciado a ser mais relacionado do que nunca com o uso que se faz dele numa determinada situação.
Austin trabalhou nesta perspectiva e as suas teses encontram-se, principalmente, nos textos OtherMinds (
1946), Word and Deads e How do to Things with Words (publicadopostumamente em 1962) e elas versam sobre os usos da linguagem, principalmente sobre a interpretação de questões, exclamações, comandos, ou seja, sobre enunciados que não são unicamente descritivos.

A par do tu e do eu:

  • demosntrativos
  • advérbios
  • adjectivos

como indicadores da deixis, ou deícticos, que organizam as relações espaciais e temporais em torno do sujeito.

  • Isto, aqui, agora
  • Isso, ontem, no ano passado, amanhã

Estas classes têm em comum definirem-se apenas com relação à instância do discurso na qual são produzidos, sob dependência do eu; Mesmo nos verbos que indicam passado, a referência será sempre o presente, isto é, o tempo em que se fala.

Se a linguagem é a possibilidade da subjectividade, o discurso provoca a emergência da subjectividade:

  • "Eu sofro" - Descrição do meu estado presente
  • "Sinto que o tempo vai mudar" - Descrição de uma impressão que me afecta
  • "Creio que o tempo vai mudar" - Afirmação mitigada: converto numa enunciação subjectiva um facto, isto é, "o tempo vai mudar", que é a verdadeira proposição

[Wiki] De acordo uma das leituras possíveis, discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflecte uma visão do mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).
Texto, por sua vez, é o produto da actividade discursiva, o objecto
empírico de análise do discurso; é a construção sobre a qual se debruça o analista paraprocurar, à sua superfície, as marcas que guiam a investigação científica. É necessário porém salientar, que o objecto da Análise do Discurso é o Discurso.

Contexto é a situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com ele se relacionem. Pode dizer-se que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor como do receptor — e a análise destes elementos ajuda a determinar o sentido. A interpretação de um texto deve, de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social e histórica e, a partir disto, situar o discurso como compartilhando desta identidade.

Uma ordem de discursos é um conjunto ou série de tipos de discursos, definido socialmente (Foucault) ou temporalmente (Fairclough), a partir de uma origem comum. São os discursos produzidos num mesmo contexto de uma instituição ou comunidade, para circulação interna ou externa e que interagem não apenas entre eles, mas também com textos de outras ordens discursivas, (intertextualidade). A sua importância para a Análise do Discurso está em contextualizar os discursos como elementos relacionados em redes sociais e determinados socialmente por regras e rituais, bem como modificáveis na medida em que lidam permanentemente com outros textos que chegam ao emissor e o influenciam na produção dos seus próprios discursos.

O universo de concorrências ou mercado simbólico é o espaço de interacção discursiva no qual discursos de diferentes emissores se dirigem ao mesmo público receptor: por exemplo, diferentes marcas de cerveja apelando ao mesmo segmento de mercado (homens entre 20-45 anos, classes A/B, solteiros). A concorrência ocorre quando cada um destes discursos tenta "ganhar" o receptor, "anulando" os demais ou desarticulando os seus argumentos ou credibilidade em seu próprio favor. O modo de interpelar o receptor definirá as características do seu discurso (posicionamento competitivo) e determinará o seu êxito ou insucesso.

A contextualização de um discurso é dificultada por, fundamentalmente, três items: a relação de causalidade entre características de um texto e a sociedade não é entre dois elementos distintos A -> B, um causa e outro consequência, mas é dialética, ou seja, a continência de um pelo outro é uma relação contraditória. Pelo mesmo raciocínio, os discursos (esfera da superestrutura) não sofrem apenas os determinantes económicos (esfera da infraestrutura), mas também culturais, sexuais, etários etc..
O não-imediatismo da passagem da análise
semiológica para a interpretação semântica, ou seja: não basta demarcar e classificar as palavras para imediatamente interpretar os seus significados. É preciso considerar o máximo possível de variáveis presentes no contexto.

A teoria do Discurso Estético parte do princípio de que, se a imagem também é um texto, e há discurso das imagens, não apenas semântico, deve haver discurso estético, sintático, perceptível não logicamente, mas esteticamente.
Teoricamente, há
estética em tudo. Todas as formas existentes são passíveis de percepção estética -- logo, de apreciação e informação. Por isso, o que falamos pode ser chamado de um “discurso estético” ou discurso das imagens, que se dê pela percepção estética, não-lógica, de determinados valores ideológicos inculcados e identificáveis por meio das suas marcas de enunciação e interpelação. No caso das imagens, tais marcas podem ser encontradas, entre outros modos, por meio da Análise da Imagem e das leis da Teoria da Percepção.
É possível, por exemplo, analisar linhas de formas, texturas,
cores, nas imagens produzidas por uma sociedade, uma instituição ou um período e, a partir destas marcas, encontrar formas de interpelação (posicionamento e poder) e valorizações de determinados conceitos que são fundamentalmente ideológicos.
A idéia do discurso como “transmissor” de
ideologia é aplicada às formas de Arte e de Comunicação Visual mais recentemente, em virtude da evolução das relações de produção, que vêm distanciando quem cria de quem produz.
Na história da feitura de artefatos (fabricação de objectos e obras de arte), a produção deslocou-se da união designer/produtor para a gradual separação entre esses dois agentes. Antigamente, um artesão era ao mesmo tempo o projectista e o fabricante de um objecto ou uma obra. Já no contexto da produção industrial, o profissional que aplica valores estéticos aos objectos que serão produzidos (designer) não é o mesmo que os executa. Assim, indaga-se se é ele quem cria e determina esses valores estéticos, ou se eles já lhe são passados, pelo ambiente cultural, ideológico ou económico.
Por exemplo: se os
cartazistas russos do período revolucionário (1917-1922) utilizavam praticamente só as cores preta e vermelha, isto era uma condição imposta pela economia de guerra, que não dispunha de variedade de tintas, ou era reflexo de um discurso ideológico extremista que defendia altos contrastes e opostos bem definidos, desprestigiando nuances e meios-termos?
Ou, por outro lado, o estilo
Barroco da Contra-Reforma católica dá ideia de riqueza e opulência, fazendo frente à austeridade sombria da estética protestante, que pregava a não representação (abolição do culto às imagens de santos etc.) e a ascese.
Embora não seja fácil definir qual é a relação causa-e-consequência do fenómeno, o certo é que os valores estéticos impregnados num trabalho e o ambiente ideológico estão intrinsecamente ligados, produzindo discursos muito mais do que verbais. Assim, é possível encontrar discursos estéticos nas instituições (aparelhos ideológicos do Estado, segundo
Althusser, ou aparelhos de hegemonia, segundo Gramsci), dentro do que se considera "cultura", e pode-se considerar a actividade de comunicação visual como produtora de estética.
O que se propõe como Discurso Estético para as imagens vale igualmente para a
Música, a Poesia, a Literatura e outras manifestações estéticas.

A proposta de um novo objecto chamado "discurso" surgiu com Michel Pêcheux na França, em sua tese "Analyse Automatique du Discours" em 1969. Na época ele trabalhava num Laboratório de Psicologia Social e sua ideia era a de produzir um espaço de reflexão que colocasse em questão a prática elitizada e isolada das Ciências Humanas da época. Para tanto, ele sugere que as ciências se confrontem, particularmente a história, a psicanálise e a linguística. Este espaço de discussão e compreensão é chamado entremeio, e o objecto que é aí estudado é o "discurso". Assim, é no entremeio das disciplinas que podemos propor a reflexão discursiva.
Contemporaneo a Pêcheux está Michel Foucault, também na França, e também incomodado por questões semelhantes, mas propondo uma outra via de compreensão, a que ele também chama "discurso", por exemplo em "Archeologie du Savoir". O discurso de Pêcheux não é o discurso de Foucault. E se pensarmos na tradição anglofona a distância aumenta, porque o discurso de Norman Fairclough também não se aproxima das questões francesas. O que temos são vias, diferentes possibilidades de compreensão de um problema posto diferentemente por cada autor. O que significa que não há uma "teoria" mais aceite actualmente, mas sim caminhos teóricos que respondem e correspondem em parte às necessidades de reflexão que se apresentam.

CJT - O Ensino da História

História


ALGURES ENTRE HEGEL E POPPER

A necessidade de uma cultura histórica advém da possibilidade de serem estabelecidos parâmetros de conduta social que vão sendo aprendidos pela análise do passado. O estudo da história, se bem que impregnado de algum romantismo dado pelo carácter de um ou outro autor, é essencial à formação do Homem. A memória serve-nos de bitola para podermos determinar objectivos e estratégias, à falta de uma outra ferramenta que se possa considerar exacta para tal.
Não podemos, ainda assim, considerar a História como a forma preferencial de determinação do curso da Humanidade. O tempo anda para a frente e, embora o presente histórico seja ainda indeterminado e o seu passado seja um dado adquirido, estes dois não podem, não devem tolher o curso dos tempos, mesmo correndo alguns riscos. Sabemos que em determinada ocasião aconteceu assim, neste contexto. Não sabemos com toda a certeza se tal acontecimento será cíclico, se voltará a repetir-se, mesmo em contextos semelhantes. O tempo prega-nos partidas e, como digo, é inexorável.

Não considero, no entanto, que o estudo da História seja algo vago. É um estudo que se quer objectivo e, embora limitado pela quantidade de informação que se consegue obter e mesmo pela interpretação diferente de cada um dos autores em relação a determinado objecto, oferece-nos uma real oportunidade de crescimento intelectual e um acumular de informações acerca da ancestralidade que nos permite, sem sombra de dúvidas, que a cada momento possamos ajuizar acerca de uma ou outra opção a tomar e, importante, exercer julgamento sobre determinados períodos, pessoas, actos, que pareceram ser os mais ou menos correctos num presente histórico de outros e que, bem vistas as coisas, acabam por se tornar noutra coisa qualquer.

A REALIDADE PÓS-INDUSTRIAL

A época capitalista e globalizante que vivemos trouxe-nos a necessidade de vivermos num mundo múltiplo de referências policulturais. Fragmentou-se o tempo e a realidade em mínimas parcelas, a Comunicação e as Indústrias Culturais ganham importância crescente nessas fragmentações. A História passa assim a ser vista como um contraponto à incapacidade da explicação científica e reveste-se, por assim dizer, de alguns laivos da explicação hegeliana, embora imbuída de alguns traços positivistas conferidos pela pós-modernidade.

Sabemos que tal não é mais que uma falácia. A História presente é cada vez mais deturpada pela hiperinformação que tenta a todo o custo fornecer análises em "tempo real" de situações que, pela sua complexidade, necessitariam de uma geração para amadurecer o juízo e a interpretação da realidade analisada. As recentes técnicas de informação e comunicação permitem o acesso constante a dados e referências das mais variadas vertentes deixando o estudo académico depauperado.

Não se aprende história nas escolas, pelo menos da forma como esta deveria ser ensinada: de uma forma com tempo, com espaço de aprendizagem, com alma. A História que se ensina nas escolas, especialmente no ensino básico e secundário, é apenas um resumo apressado de "coisas que aconteceram aos velhos". Não ensina os estudantes a tornarem-se eles Velhos de Conhecimento. Não os ensina sequer o supremo gosto de tentarem encontrar dados, de os cruzar e interpretar e, de igual modo, de os comparar com o presente histórico e extrapolá-los para um futuro que é deles.

Remete-se assim o ensino da História para os vídeos e filmes, para Códigos e Códices, para "300" e outros que tais. A História Pop em toda a sua plenitude, a batalha de Levante pintada por Wharol.

Talvez seja por isso que Salazar seja uma figura de moda, talvez seja por isso que Hitler tenha tantos posters vendidos, talvez seja por isso que temos políticos que não têm problemas em dizer que a Coreia do Norte dificilmente não será uma democracia ou que George Bush é um baluarte desta.

Talvez seja por isso que ouçamos e acreditemos, nem que logo de seguida nos digam o contrário para acreditarmos também.

E é por isso que compreendo o excelente post do Paulo Guinote, "O Fim da Memória e o Desejo do Homem Novo", sob o mote de Georges Steiner, "Hoje, a nossa escolaridade é de amnésia amplificada".

IAM - Pragmática da Comunicação - Conceito

Adriano Duarte Rodigues in "(Linguística e Comunicação) A Partitura Invisível - Para uma Abordagem Interactiva da Linguagem" (Lisboa, Edições Colibri, 2005) definiu o conceito de Pragmática da Comunicação.
Não querendo ser uma especialista (que não o sou, sou apenas uma estudante do tema, no âmbito da Comunicação Empresarial) resolvi fazer um pequeno resumo do texto deste autor, que, na minha modesta opinião, conseguiu definir a Pragmática da Comunicação de forma clara e que pode ajudar a entender este tema.

O termo pragmática é muitas vezes confundido com o termo prática. Ora nada como procurar a origem de uma palavra para conhecermos o seu verdadeiro significado.

De origem grega, o termo pragmática surgiu do substantivo "he pragma" (negócio, assunto), tem como significado "cuidado, o trabalho ou aplicação que se põe na confecção ou no fabrico de alguma coisa".

Tendo sido aplicado em várias áreas (desde o direito á filosofia, passando pela matemática), o termo pragmática, a partir de 1851, passou a denominar uma corrente filosófica norte-americana, encabeçada por William James e Charles S. Pierce, que defendia que "o valor prático de uma proposição é considerado como o critério da sua verdade ou, pelo menos, da sua aceitabilidade".

Peirce identificou três dimensões de signo, dimensões essas que Charles Morris veio a designar de:
  • Dimensão Semântica - relação dos signos com os objectos que representam
  • Dimensão Sintáctica - relação dos signos entre si
  • Dimensão Pragmática - relação entre o signo e os seus interpretantes

Segundo Adriano Duarte Rodrigues não é bastante um enunciado ser percebido linguisticamente, é necessário que tanto o locutor (que enuncia o enunciado) e o alocutário (quem descodifica o enunciado) estejam "dentro" do mesmo contexto, ou seja, por exemplo se alguém enunciar "ele bateu à porta", significa que um indivíduo do sexo masculino, que não é nem o locutor nem o alocutário, bateu à porta. Mas, este enunciado continuará indeterminado, uma vez que não podemos atribuir um nome próprio à pessoa que bateu à porta e de quem se fala, nem sabemos o porquê do locutor ter proferido o enunciado, isto é, não sabemos se estava a responder a uma pergunta do alocutário, ou se estava a constatar um facto, nem qual é o momento e o espaço em que o enunciado foi proferido. Podemos então dizer que, semânticamente, o enunciado tem sempre o mesmo valor, mas pragmaticamente terá sentidos diferentes.

Um enunciado adquire sentidos diferentes consoante as pessoas, situações, lugares, momentos e das razões que levaram à sua enunciação. Este estudo cabe á Dimensão Pragmática, que o vai inserir numa situação interlocutiva.

Ao determinarmos a significação de um enunciado, está-se a definir o seu valor semântico, é-se capaz de compreender o que exprime numa língua comum aos intervenientes. No entanto, para entender qual o seu sentido, as razões porque foi enunciado é necessário ligar o enunciado a uma situação interlocutiva concreta e única. Esta possibilidade torna o discurso relevante, plausível e razoável e, são precisamente estas três características (Relevância, Plausibilidade e Razoabilidade) que dão sentido a qualquer enunciado.

Podemos então afirmar que a "pragmática compreende o estudo das relações de referência que a linguagem estabelece com o mundo extra-linguístico, com as situações e os contextos enunciativos, e das maneiras como estas relações se estabelecem."

CJT - O Novo Site Do ISCAP

Este artigo pretende criticar construtivamente a nova página do ISCAP. Não é intenção estar por aqui a "armar-me aos cucos", a intenção é apenas a de analisar as coisas conforme eslas estão na actualidade: muito melhores e com oportunidade de melhorar ainda mais.
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O ISCAP renovou o site - e fez muito bem. O antigo estava gasto, era lúgrube, tinha informação confusa e o acesso a esta era difícil.
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O novo site está bem melhor. Mais funcional, com uma leitura fácil e a fazer os olhos circularem pela pela página, aparenta levar o rato a clicar nas mais diversas ligações. Tem um desenho sóbrio mas aprazível e não exagera nos flashes e quadros dinâmicos.
No entanto, creio poderem ainda acabar algumas obras e aprimorar alguns acabamentos.
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Uma das primeira coisas a fazer, a meu ver, seria a redistribuição da página: a coluna da direita, com menos informação, está desproporcionalmente mais larga em relação à central, com mais informação.
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Uma das novidades que poderá ser um dos mais valiosos contributos para a obtenção de informação actualizada por parte dos Alunos e demais públicos é o formulário de subscrição de e-mail. E, reparem, não digo "a possibilidade de subscrição de notícias por e-mail". Falo apenas do formulário que, por agora, é a única coisa que consegui conhecer. Já o preenchi há uns dias [na data da "inauguração" do novo site] e, até agora, ou não houveram novidades ou aquilo não funciona.
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Ainda na página inicial, o site oferece-nos uma agenda, ou o resumo desta, que nos informa das datas e eventos mais recentes. E por recentes entenda-se os futuros e os passados. Nada contra isto mas, se é certo que podemos ficar a saber o que se irá passar no Infocomm 2007, também é certo que ficamos sem saber o que se passou na Semana Internacional do ISCAP pois, em vez de o site apresentar uma reportagem acerca do que se passou, apresenta unicamente o programa... passado. Mais uma curiosidade acerca deste módulo da página principal é o facto de os eventos se apresentarem em sequência cronológica descendente, quando deveria acontecer o inverso.
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Entretanto, os principais serviços OnLine dedicados aos utentes do Instituto estão agora bem localizados e identificados, não sendo necessário recorrer à antiga barra lateral que era mais um engarrafamento de informação que uma ferramenta de acesso. E ainda por cima, este módulo ficou bonito. Creio que é mesmo a primeira coisa para onde olhamos em toda a página. Ficou bem onde está, mesmo ao lado das notícias.
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O bloco central do site está muito bem estruturado. Apresenta uma imagem aleatória que muda a cada pageload [pessoalmente, preferiria que esta fosse mudando em forma de apresentação enquanto a página está carregada] e a barra de links no topo deste módulo faz a vista percorrer a página em "F".
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Por sua vez, a barra de links vai dar a páginas com diferentes tipos de informação mas com uma característica comum: nenhuma delas possui um link de "forward", "go to" ou "vá para". Somos obrigados a subir o rato uma vez mais para a barra de links, o que, como todos sabemos, é uma trabalheira desgraçada. Como nota curiosa podemos verificar que as páginas acedidas a partir dos títulos do módulo "Em Destaque", apresentam o link "Voltar" mas não apresentam o link "Seguir para o próximo destaque"... ou coisa assim. Isto é, se quisermos ler o próximo, temos que voltar à página inicial.
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O cabeçalho está engraçado e não há nada a apontar.
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O módulo "Notícias" funciona à semelhança do "Agenda" com excepção de não existir um critério cronológico, o que também não faz falta alguma. Por sua vez, a barra lateral está bastante simplificada na sua utilização e o acesso aos variados módulos que a compõe é completamente diferente do que se podia esperar ao aceder ao antigo site. Esta é uma das melhores modificações que este site teve. Apenas um reparo: a utilização de siglas e acrónimos não é aconselhável num site que se espera aberto aos diversos públicos e não só ao público interno. Coisas como "I&D no ISCAP" não significam nada. Ainda por cima, acedendo a essa página, encontramos por lá títulos como "CEI", CEISE/STI", "PAOL", etc. Poderão existir utentes do ISCAP que estejam familiarizados com essas siglas [?] mas decerto que outros não estarão e, num site, coisa que não se compreende é rejeitada logo à partida.
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Por último, alguns pequenos detalhes: a existência de link directo para o e-mail é coisa boa para spammers. A inclusão de um formulário de e-mail seria o ideal, especialmente se este puder trabalhar com filtros.
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Uma outra coisa boa seria a inclusão de um Feed RSS ou Atom. Para pessoas que não têm muito tempo a perder e para outras que, tendo um blog como este, gostam de ter as últimas actualizações dos seus sites preferidos ali mesmo, expostas na barra lateral.
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Por fim, uma nota que considero de muita importância: o ISCAP é feito pelos seus Docentes, Pessoal e Alunos. Não se compreende pois que a página da Associação de Estudantes esteja em domínio próprio. Suponho que seria muito mais engraçado ver a página no domínio iscap.ipp.pt e as suas novidades na página principal.
Isto, claro está, para nem falar nos blogs de cursos...

CJT - A Importância De Uma Pequena Conversa

Não é à toa que se conversa. Talvez a maior parte das conversas que temos sirvam, efectivamente, para transmitir uma mensagem. Digo isto porque muitas das que tenho fazem-me duvidar da efectividade de transmissão do texto. Sei que isto é uma "heresia" em termos comunicativos mas não consigo deixar de o pensar. Ainda hoje tive uma graaaaande conversa que resultou em menos que nada. Creio que foi o que se pode chamar uma conversa de surdos. Ou talvez se trate mesmo do que estivemos a discutir, relacionado com a pragmática conversacional - aquela coisa em torno da metalinguística, aquilo de "sintonizar" as cabeças e as sentenças. Pensando bem, talvez os teóricos tenham alguma razão.

Adiante. Temos conversado acerca da comunicação e, dentro desta, de canais ascendentes, descendentes, temos andado a ver do que se trata, afinal, de enviar textos dentro de uma empresa, para o nosso público interno. Falamos de conceitos diversos, afloramos o endomarketing e, na realidade, tudo não é senão uma simples coisa: a necessidade de nos fazermos entender.

Mas é fazermo-nos entender que não é tão simples como isso. Quantas vezes dizemos que "Fulano não compreendeu o que eu lhe disse"? Na minha opinião, essa pergunta, por si só, é falaciosa. Tenho por norma nunca perguntar "percebeste o que te disse?", mas sim "Fiz-me entender?". É diferente.

É que, vendo bem as coisas, se alguém não compreendeu o que eu lhe transmiti, é por um único motivo: porque eu não expliquei bem. Podemos mesmo estar a tentar explicar algo a uma criança ou a alguém completamente ignorante, até mesmo a um indivíduo com algum tipo de anomalia psíquica. A minha opinião é que, uma vez mais, se ele não entendeu é porque eu não me fiz entender. Daí a famosa expressão "Explica-me isso como se eu fosse muito burra" que andou a circular numa campanha publicitária.

As empresas têm a sua visão, a sua missão, a sua estratégia. Fazem o seu planeamento. Tentam transmitir todos esses conteúdos ao trabalhador por meio das mais diversas ferramentas. No entanto, continuamos a verificar falhas de interpretação e a consequentes quebras de produção, volume de vendas, etc. Tudo porque, aparentemente, "o pessoal não conseguiu interiorizar" as expectativas.

Neste sentido, a comunicação é quase um valor em si. É incontornável na criação de valor para a organização onde se desenvolve e que desenvolve. É imprescindível para a consecussão de resultados óptimos para a organização e para os seus trabalhadores.

Lamentavelmente, está ainda longe de ser considerada como o deve ser.

A realidade é que grande parte das empresas estão ainda muito compartimentadas e operam ainda no modelo de "dois pisos". Esta situação observa-se com especial incidência no sector produtivo onde existem três classes: a dos "Senhores Doutores", a dos "Senhores Engenheiros", a dos "Empregados do Escritório" e, finalmente, uma inevitável quarta, a do "Operariado" ou "Pessoal".

Neste contexto cultural, a comunicação é barrada por um sem número de factores e, muitas das vezes, os objectivos da organização não chegam da melhor forma ao pessoal mais subalterno. Daí a existirem clivagens, por vezes fortes, entre a visão da organização por parte de uns e de outros, é um instante.

Quando falamos do planeamento de uma qualquer coisa, digamos de uma escada, o que é habitual é que exista um desenho original dessa escada, feito pelo arquitecto. Este, por sua vez, há-de o entregar a alguém, provavelmente um engenheiro, para que proceda à sua execução. Cabe a este último o estudo dos métodos e processos a colocar em prática para que a tarefa possa ser concluída com um máximo de eficiência pelo que deve considerar todas as envolventes relacionadas com logística, recursos humanos, escolha de materiais e ferramentas etc.

Este estádio do processo deve-se ao facto de ter existido uma conversa entre o arquitecto e o engenheiro que lhe passou o desenho para a mão, explicando-lhe de forma objectiva quais as suas expectativas em relação à empreitada.

O engenheiro, tendo interiorizado esta expectativa e tendo já cuidado de todos os trabalhos prévios à construção, dá o plano desta obra ao seu melhor profissional, ao que crê ser o mais habilitado, mais perfeito e eficiente. Aparentemente, nada mais há a fazer senão esperar que o trabalho da escada se complete e que o profissionalismo do funcionário, aliado à boa capacidade de gestão do engenheiro dêem frutos, podendo este passar a circular pelo resto da obra que, por acaso, até tem trabalhos muito mais complexos que este.

No final do dia o funcionário vai ter com o engenheiro e, sorridente, diz-lhe que o trabalho está pronto e que ficou muito bom. Confessa-lhe até que foi dos melhores que fez até hoje. O engenheiro, contente e confiante, pergunta-lhe ainda assim se seguiu e conseguiu cumprir o plano que lhe tinha entregue, a cópia do desenho do arquitecto. A resposta é entusiástica. Que sim, que tudo ficou "tal e qual", que lhe deu um pouco de trabalho mas que está "um brinco".


Bom... não se pode dizer que o funcionário não tenha feito um bom trabalho. Aparentemente, fê-lo até bem demais, cumpriu e superou a expectativas que nele tinham depositado: as da reprodução fiel do plano do desenho original, símbolo habitual do seu perfeccionismo. De fora ficaram alguns símbolos que, no catálogo de convenções do operário, tinham significações diferentes das do engenheiro e do arquitecto.


Compreendeu mal? Não creio. Explicaram-lhe mal, não se fizeram entender? Tenho a certeza que sim.


E, no fim, isto não foi nada que uma pequena conversa não pudesse ter evitado...

Paulo Querido - A Internet Como Forma de Interacção e Auscultação O Mercado

Paulo Querido é jornalista desde 1981, tendo sido agraciado com vários prémios [Prémio Jornalismo Raul Junqueiro APDC/Ericsson, Prémio Algarve/Imprensa, Prémio Gandula] e é colaborador permanente no Expresso após passagens pelo Gazeta dos Desportos, Diário Popular, Rádio Algarve, Correio Informático e Recortes.
A par da actividade jornalística, tem desenvolvido actividades como consultor de sistemas informáticos editoriais. Tem diversas publicações em livro: “Amizades Virtuais, Paixões Reais, a Sedução pela Escrita”, Co-autor do livro “Blogs”, Autor do livro “Homo Conexus – O Que Nos Acontece Depois De Nos Ligarmos à Internet”, Co-autor da obra “O Futuro da Internet”, Co-autor do livro “O Fundamental do CorelDraw”. Tem sido orador e apresentador nos mais diversos eventos relacionados com informática e Internet.
Cria a primeira rede editorial de blogues [http://tubaraoesquilo.pt/]. Membro do Grupo de Alto Nível da Associação para a Promoção e Desesenvolvimento da Sociedade da Informação, Formador na área do jornalismo online ao serviço do Observatório de Imprensa, Fundador do projecto weblog.com.pt, web-activista, participação em diversos projectos; Faz primeira entrevista transatlântica utilizando a Internet (João Cabeçadas, circum-navegador, para o Expresso) (1989); Editor do primeiro suplemento regular de informática da Imprensa portuguesa, Bit-bit (Diário Popular), em 1984/85. Fundador e director da inovadora BBS “A Rede”, onde lançou a primeira edição digital europeia na Internet de um orgão de comunicação social (o semanário Blitz). Responsável pelo primeiro título português com edição simultânea no papel e na Internet (o jornal Correio Informático/Computerworld, de que era Chefe de Redacção). Fundador da primeira empresa gráfica totalmente assente nas novas tecnologias (Cibergráfica). Mantém o blog "Mas Certamente Que Sim!".
Para o Paulo, o nosso abraço e agradecimentos.
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Sinteticamente, as ferramentas de comunicação proporcionadas pela Internet servem às organizações em três áreas:

  • comunicação interna
  • comunicação externa
  • avaliação passiva do comportamento dos seus públicos-alvo

Na primeira área as vantagens são evidentes e brutais. A Internet permite reduzir drasticamente os custos de comunicação e oferece soluções para todo o tipo de trabalho, com particular relevo para o trabalho colaborativo, ou grupal. Dos blogues aos wikis ao youtube passando pelas aplicações de escritório online.
Uma organização que use inteligentemente estas ferramentas dá um passo em frente na comunicação e poupa despesas. Por inteligente, aqui, entendo dar aos seus membros (funcionários, colaboradores, etc) a autonomia e o estímulo para descobrirem por si próprios os caminhos da comunicação reticular.

Em termos de comunicação com o exterior é preciso muito mais cuidado e tendo a ser um pouco conservador. Não concordo que toda a qualquer organização se sinta compelida a criar blogues, foruns ou espaços para "comunicar com o cliente". Essa comunicação é eventualmente muito perigosa. Na web as audiências têm comportamentos peculiares e as más imagens são fáceis de construir e difíceis de apagar. Tudo o que soe a falso é imediatamente detectado e vira-se contra o emissor. Mais vale ter um blogue não oficial, dirigido por alguém da organização a quem é dada muita latitude, inclusivé para criticar, do que um blogue formal -- que será visto como mera correia panfletária e como tal mais ou menos ignorado.
As excepções a esta espécie de regra são escassas, enquanto os exemplos que a confirmam abundam.

Esta segunda área tem sido a mais badalada pelos media e um pouco por toda a sociedade, mas não a considero a mais importante.

Já a terceira área tem sido muito negligenciada, sobretudo em Portugal.
A web é um espaço laboratorial incrível e um autêntico ninho de tendências sociais. Avaliar os comportamentos de forma passiva -- quer seguindo grupos que correspondam mais ou menos ao alvo da organização, quer criando tais grupos para os estudar -- comporta poucos riscos e tem grandes benefícios. Seja a avaliar o nosso nicho, seja a avaliar a concorrência.

Rich Brooks - Six Blogging Myths That Are Holding You Back

Rich Brooks é presidente da Life New Media, uma companhia de Internet Marketing e Web Design. Neste pequeno artigo demonstra-nos alguns dos mitos que continuam a impedir os gestores de apostarem nesta ferramenta, o blog. A ler, do mesmo autor, os artigos "The 11 Biggest Mistakes Small Business Bloggers Make", "10 Questions To Ask Befor Setting Up A Web Site" e "The Secret to a Web Site That Sells". Como curiosidade, hão-de reparar que o nome do site da Life New Media ostenta o título "You Don't Need A Web Site"...

6 Blogging Myths that are holding you back
[imagem: autor desconhecido]
By the hammer of Thor there's a lot of blogging myths out there; myths that keep you from generating more online leads and building lasting relationships with clients.
The problem with these myths is that if they're not challenged they turn into conventional wisdom. If you've been looking to drive more traffic to your Web site and improve communications with customers, you owe it to yourself to give a business blog a try.
Below are some of the hurdles--exaggerated or imagined--I've heard business owners use to avoid starting a blog, and real-world experience to debunk these myths.

1) My customers don't read blogs. I hear this all too often by business owners who don't completely understand what a blog is. Now, perhaps your customers don't subscribe to any blogs, or they don't return daily to a favorite blog. However, if they use Google or Yahoo for search, chances are they stumbled upon a search result from a blog. Since blogs often rank high at the search engines, if your customers use the Internet, you can capture their attention with a blog.
2) Blogging is for teenagers to share the minutiae of their lives and what they think of the remaining American Idol contestants. While teens certainly took to blogging quicker than businesses, these days companies of all sizes and shapes have realized the benefits of a business blog. You wouldn't dismiss the telephone as a communication device just because your teenager spends hours each night on it, would you?
3) Blogging is just a fad/This too will pass. Didn't you say the same thing about the Internet back in 1997? Of course no one can predict the future and much of the hype about blogs is just that. However, it's important to realize that blogs are a powerful, easy-to-use communication tool, and communicating with customers and prospects will never go out of style.
Besides, blogs are an effective marketing tool today, so don't worry if in five years you've moved on to your next communication medium. If you've cultivated an active audience, they'll follow you to other distribution channels.
4) Blogging takes up too much time. I run a growing business, sit on the board of MEBSR (Maine Businesses for Social Responsibility), participate in a business-owners group, do a lot of writing and speaking, and carry my share in raising our two daughters. Trust me, I know from being busy.
However, in the past two-and-a-half years of blogging, I've discovered that it's probably the most effective use of my marketing time. Blogging helps establish your expertise, generates loads of search engine leads, and delivers your message through three distribution channels each time you write. (Read more on the three faces of blogs.)
As business owners we have limited time in the day to market our services; blogging provides great return on that investment.
5) Blogging is fraught with dangers, like people leaving negative comments. These days, consumers can vent their frustration with your product or service anywhere on the Web, whether it's a post at their own blog, a review at Epinions.com, or a scathing YouTube video. If I had my choice, I'd rather have that conversation happen where I have home court advantage. How you handle negative feedback can establish your authenticity, and help you win over new converts.
And, if you happen to find yourself with a PR nightmare, you don't have to worry about letting the media tell your side of the story. By using your own blog you have unfettered access to anyone with a connection to the Internet.
People are looking for transparency and authenticity from companies these days, and your blog is the perfect tool to match these needs.
6) My customers don't read blogs. Whoa. Feelings of deja vu. Didn't we respond to this earlier? Oh, you mean that you don't get leads from the Internet? That they only use the Yellow Pages or go on advice from a friend? Well, then your audience is shrinking. The average consumer is much more likely to use the Web to search for a product or service, or at least visit your Web site to learn more about your company.

If you haven't gone after this audience before, you're missing an opportunity of getting in front of a younger audience...your customers and clients of tomorrow.

And trust me, they read blogs.

The truth about blogging is that it's proven an effective marketing tool for a wide range of businesses. You can start a blog on your own through a service like TypePad or by installing a blogging platform like WordPress on your own server. Alternatively, you can hire a Web design firm to design, develop and promote your blog and get you up to speed quickly.
Whatever path is right for you, don't let these myths keep you from giving business blogging a chance.

Habilidades en Salud Mental - Lógica Relacional Humana E Conceitos De Comunicação [II]

Adaptado de "Habilidades en Salud Mental", edição de Março de 2005, por JA Barbado Alonso, JJ Aispiri Diaz, PJ Cañones Garzón, A Fernández Camacho, F Gonçalves Estella, JJ Rodríguez Sendín, I De la Serna de Pedro, JM Solla Camino.
Os links e expressões a bold são da responsabilidade de CJT.




[imagem: Seagram]




DIMENSÃO PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO


Por PRAGMÁTICA COMUNICACIONAL entendem-se os efeitos e influências que a comunicação produz na conduta.

O chamado Grupo de Palo Alto foi o pioneiro desta perspectiva ao elaborar uma série de regras ou axiomas.

A IMPOSSIBILIDADE DE NÃO COMUNICAR

Não há nada contrário à conduta. Não existe a não-conduta. Toda a conduta [em situação de interacção, de intercâmbio] é mensagem. Falar ou estar calado, mover-se ou permanecer quieto, têm sempre o valor de mensagem. Na relação interpessoal é impossível não comunicar. Um passageiro de comboio de olhos fechados pode estar a indicar-nos que não lhe falemos; um paciente histérico mostra-nos a discordância entre as suas mensagens verbais e a expressividade do seu corpo, dos seus sintomas corporais; o paciente com inibição catatónica indica-nos a negação à comunicação. Todos os exemplos acima nos indicam uma mesma coisa: apesar do que pretendamos, não podemos evitar comunicar.

OS NÍVEIS: INFORMATIVO E RELACIONAL

O aspecto conteúdo de uma mensagem é o que transmite informação. O aspecto racional faz referência a que tipo de mensagem deve entender-se, refere-se à relação entre os comunicantes. A mensagem "vem cá" dita em tom imperativo ou dita em tom amistoso, embora sendo a mesma informação, mostra dois tipos de relação diferentes: uma de subordinação, a outra de igualdade ou simetria.

OS CANAIS: DIGITAL E ANALÓGICO

O digital refere-se à comunicação verbal e o analógico é constituído pelos gestos, a postura, o tom e a cadência de voz, o ritmo e, em geral, por todo o cinésico. É muito importante considerar a existência de incongruência entre estes dois canais. Por exemplo: uma frase agressiva ["odeio-te"], dita em tom cordial, tem significado diferente se for acompanhada de um componente analógico diferente.

AS INTERACÇÕES: SIMÉTRICA E COMPLEMENTAR

Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo estejam baseadas na igualdade ou na diferença. No primeiro caso, os participantes tendem a igualar a sua conduta recíproca. A um movimento X de A segue-se um movimento X de B. Por exemplo: Escalada, competições desportivas, discussões conjugais... A característica deste tipo de relação é que cada participante tenta impor as suas próprias regras de jogo. No segundo caso há duas posições diferentes: um ocupa uma posição superior ou primária, o outro a inferior ou secundária. Por exemplo: sádico-masoquista, amo-escravo, professor-aluno, médico-paciente... O importante é que nestes casos cada membro aceita de bom grado a posição do outro.

PONTUAÇÃO DA SEQUÊNCIA INTERACTIVA

Uma interacção é uma sequência ininterrupta de comunicação. A pontuação refere-se à forma como esta se organiza, onde começa e onde acaba, quem e o que se interpreta do processo interactivo; é um processo aleatório. Como seres humanos organizamos, pontuamos a complexidade da realidade numa tentativa de apreendê-la, de controlá-la, de domesticar a sorte. Mas esta pontuação é aleatória e consensual. Por exemplo: dia-noite é um processo natural, ininterrupto, circular; no entanto, criamos unidades de tempo [horas, minutos, segundos] e decidomos que o ponto de inflexão de um dia para o outro seja a meia-noite. Nos processos de comunicação humana outro exemplo é uma seta, onde a conduta de um membro se pontua como líder e a dos restante de adeptos. A origem de muitos dos conflitos humanos é a falta de acordo em relação à forma de pontuar. O eninciado-tipo é o de "quem começou primeiro". Exemplo característico é o do alcoólico e sua mulher: ela diz que o controla porque ele bebe, ele dizendo que bebe porque ela o controla.

REDUNDÂNCIA E RUÍDO

Este conceito refere-se à frequência de aparição de configurações de palavras, ideias, de mensagens num sentido amplo, numa sequência comunicativa. Toda a comunicação redundante é significativa, dá-nos pistas sobre a visão do mundo do emissor, permite-nos aceder a esse mundo de uma forma empática. Exemplo: uma mulher infeliz no seu casamento e incapaz de modificar a sua situação, descreve os seus sintomas com redundâncias como "sinto-me atada, prisioneira, sinto como se tivesse um nó aqui...". Atadura, prisão, nó, palavras que ao utilizá-las nos prmitem aceder empaticamente ao seu mundo relacional.

A MENSAGEM DEPENDE DO RECEPTOR

Vimos no início que na teoria da informação se assinalam como elementos da informação o emissor, canal, código e mensagem; mas na comunicação humana existe uma distorção que faz com que J. Lacan chame a atenção para o facto de que "O mal entendido é essencial à comunicação humana", o que se deve a que a interpretação da mensagem depende sempre do receptor. Segundo ele, numa relação nunca devemos dar por entendidas as nossas palavras pela parte do receptor; devemos explorar mais adiante: temos que procurar, ao dirigirmo-nos ao receptor, utilizar palavras unívocas e assegurarmo-nos que este entendeu exactamente aquilo que queríamos transmitir.

Habilidades en Salud Mental - Lógica Relacional Humana E Conceitos De Comunicação [I]

Adaptado de "Habilidades en Salud Mental", edição de Março de 2005, por JA Barbado Alonso, JJ Aispiri Diaz, PJ Cañones Garzón, A Fernández Camacho, F Gonçalves Estella, JJ Rodríguez Sendín, I De la Serna de Pedro, JM Solla Camino.
Os links e expressões a bold são da responsabilidade de CJT.
[imagem: Luísa Ferreira]


CONCEITOS DE COMUNICAÇÃO HUMANA
As ideias a respeito da comunicação humana variaram no decurso do séc. XXI. O ponto de partida foi a formulação em 1946, por Shannon, da "Teoria matemática da Comunicação", a partir de estudos sobre codificação e telégrafos. É uma teoria informativa: o papel da comunicação reduz-se à transmissão de conteúdos.

Posteriormente, o profeta da cibernética, Wiener, introduziu o conceito de RECTROACÇÃO: a informação sobre a acção permite ao sistema autocorrigir-se. Nasce a RECTROALIMENTAÇÃO: o receptor devolve e corrige a informação do emissor.

O modelo de Shannon foi adoptado por um linguista, Jacobson, para demonstrar um modelo de comunicação verbal usado até aos dias de hoje.

A inclusão do contexto no qual se produz a comunicação abriu um amplo campo de significados no estudo desta. A proposta do modelo apresentado por Haley é bem ilustrativa.

Transmissão de informação, rectroalimentação do destinatário e contexto comunicacional completam a abordagem a um modelo de comunicação humana e estabelecem três áreas fundamentais do seu estudo:


  • SINTÁTICA: estudo da linguagem, dos processos de ruído, redundância, canais, etc.,

  • SEMÂNTICA: estudo do significado dos signos,

  • PRAGMÁTICA: estudo dos efeitos na conduta.

O contexto da comunicação verbal é a comunicação não verbal.


COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

A comunicação não verbal deve estudar-se, não como uma unidade isolada, mas como uma parte inseparável do processo de comunicação. Pode servir para repetir, contradizer, substituir, complementar, acentuar ou regular a comunicação verbal. É a linguagem das emoções, identificadas através de inúmeros sinais como as expressões faciais, a postura, actos explícitos, gestos, que demonstram e regulam o comportamento do indivíduo.

DIFERENÇAS ENTRE COMUNICAÇÃO VERBAL E NÃO-VERBAL

Existem várias diferenças entre os dois tipos de comunicação, que permitem conseguir determinar a importância da comunicação não-verbal.

  • A comunicação verbal tem uma correspondência arbitrária entre a informação e a sua expressão digital; isto é, entre a palavra e a coisa nomeada não existe uma similitude, apenas uma convenção ou consenso cultural. Por exemplo, não há nada no objecto mesa que remeta para a palavra "mesa". Por outro lado, na comunicação não-verbal há algo particularmente similar à coisa expressa: algo semelhante existe entre um gato e o desenho de um gato. Alguma coisa é captada quando se vê um programa de televisão estrangeiro: a linguagem do corpo tem raízes evolutivas mais arcaicas e, portanto, mais universais.
  • A comunicação não-verbal é mais utilizada para definir o tipo de relação que para dar informação. A informação é mais própria do meio digital. A relação entre os animais domésticos e o homem demonstra como aqueles compreendem a linguagem não-verbal que acompanha a palavra.
  • É muito difícil uma disfarçar ou mentir na linguagem não-verbal [contrariamente à verbal]. Pode-se comprová-lo quando tentamos imaginar ou expressar com linguagem não-verbal uma falsa ideia de "não estou aborrecido": Teríamos que expressar primeiramente o enfado para logo negá-lo. Também se podem observar na multiplicidade de sinais aqueles que delatam um mentiroso.
  • A comunicação não-verbal caracteriza-se pela sua ambiguidade e dificuldade de tradução em linguagem verbal; é apenas definível no contexto onde se produz. Lágrimas, um sorriso, um punho cerrado, cada um será traduzido consoante o contexto do momento: receber um presente pode ser interpretado como afecto, suborno ou restituição, dependendo do contexto prévio.
  • A comunicação não-verbal não está sob o absoluto controlo voluntário. Emitimos sinais não-verbais que, por exemplo, determinarão a primeira impressão que causamos numa interacção. Pode dizer-se que "Somos donos das nossas palavras e escravos dos nossos silêncios".

ELEMENTOS DE COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL

Mencionou-se que a linguagem não-verbal é sobretudo a linguagem das emoções. A conexão entre o físico e o emocional manifesta-se nas expressões verbais e corporais e desenvolve-se na interacção social. A linguagem participa nesta ligação reflectida em expressões como "perder a cabeça", "andar de cabeça erguida", ter "cara de poker"...

É clássico dividir as diferentes dimensões da expressão da linguagem não-verbal em CINESIA, PARALINGUÍSTICA e PROXÉMICA.

A cinesia corresponde à linguagem corporal, incluindo gestos, movimento do corpo, expressões faciais, movimentos oculares e postura. Franzir o sobrolho, deixar os ombros caídos ou inclinar a cabeça são condutas compreendidas no campo da cinesia. Num esforço de orientação no mundo relativamente desconhecido da conduta não-verbal, Ekman e Friesen desenvolveram um sistema de classificação dos comportamentos não verbais: Emblemas, Ilustradores, Demonstrações de afecto, Reguladores e Adaptadores.

A paralinguística ocupa-se dos aspectos semânticos da linguagem, prestando mais atenção à forma como se dizem as coisas do que com o seu conteúdo. A voz, a entoação, o ritmo do discurso, as pausas, são considerados elementos paralinguísticos. Através de vocalizações, transmitimos diferentes emoções: autoridade, sossego, raiva, felicidade, segurança... Empregar o tom de voz adequado a cada contexto ou situação é uma poderosa, eficaz e assertiva ferramenta de comunicação.

Na proxémica, o sentido do EU do indivíduo não está limitado pela sua pele. Desloca-se dentro de uma espécie de borbulha privada que representa a quantidade de espaço que sente dever existir entre ele e os outros. Este espaço pode variar em função de cada cultura. Este comportamento de territorialidade também pode ser observado em animais. Na nossa cultura ocidental existe uma escala aproximativa:

  • DISTÂNCIA DE CONTACTO: a esta distência, as pessoas comunicam-se não só por meio de palavras mas também pelo tacto, odor, temperatura do corpo;
  • DISTÂNCIA PESSOAL PRÓXIMA: a esposa pode permanecer a seu gosto dentro da bolha do seu marido mas talvez esta se sinta incomodada se outra mulher o tentar;
  • DISTÂNCIA PESSOAL LONGÍNQUA: está limitada pela distância do braço, isto é, pelo limite do domínio físico;
  • DISTÂNCIA SOCIAL PRÓXIMA: num gabinete, as pessoas que habitualmente trabalham juntas normalmente adoptarão esta distância para conversar;
  • DISTÂNCIA SOCIAL LONGÍNQUA: corresponde às conversas formais. Os gabinetes de pessoas importantes tendem a ser bastante amplos por forma a manter esta distância em relação aos seus visitantes;
  • DISTÂNCIA PÚBLICA: adequada para pronunciar discursos ou tipos muito rígidos e formais de conversação.

Zita Romero - Blogosfera, Partilha e Democracia

Zita Romero é a Coordenadora do Curso de Comunicação Empresarial do ISCAP e, amavelmente, acedeu ao nosso convite para nos deixar uma breve opinião acerca do tema em curso.
Para ela o nosso abraço e agradecimentos.
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Na minha modesta opinião, acho que os blogs são um óptimo meio de se trocar/partilhar ideias, entendimentos, enfim é mais uma ferramenta que, sobretudo, nos dá uma fresca sensação de liberdade. Pode-se opinar o que se quiser sem receios, mas com a certeza de se pertencer a um grupo onde há um conjunto de interesses comuns, onde se nota aquele sentido de “pertença” de que falava o Muslow. Costumo ouvir um programa de rádio (RDP) sobre a Blogosfera, aos domingos de manhã (11-12h) e apercebo-me da importância deste meio de comunicação que funciona quase como um jornal com milhentas opções de ser lido, ao alcance de realização de qualquer um de nós, e onde poderemos ser/dar/encontrar um contributo para enriquecer a nossa cultura. Ao longo do dia, e também na RDP, existe uma rubrica do mesmo jornalista (Pedro Rolo Duarte) em que, diariamente, dá a conhecer aos ouvintes um blog por ele consultado. Vale a pena ouvir e apreciar. Que tal pedir-lhe uma participação?

O que a blogosfera tem de extraordinário é a democratização, não digo total porque algumas pessoas ainda poderão não ter acesso às TIC, quase total da autoria, realização, produção e difusão da informação, do conhecimento. Pode servir como plataforma de alargamento de contactos, de mentalidades, de conhecimento a ser transformado em sabedoria.

O mesmo se passa com uma série de nova geração de sites interactivos que veio revolucionar o mundo cibernético, a que alguns decidiram chamar a Web2.0. A este respeito, por favor leiam (imperdível) “A Rede está em ebulição” no Courrier Internacional, nº 74 – de 1 a 7/9/2006.

Mas também pode ser utilizada para fins menos convenientes. Tudo depende dos seus criadores/utilizadores. Há blogs com objectivos credíveis, como os há apenas para divertimento e outros para maledicência. Mas como disse Michael Bertouzos, “Os demónios somos nós, não as tecnologias”.

José Orihuela - La Empresa Ante La Red

José Orihuela é professor na Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra [Pamplona, Espanha] e autor do livro "A Revolução dos Blogs" [La Esfera de Los Libros, Madrid, 2006]. É autor dos blogs eCuaderno.com impulsionador da rede de blogs minoic.net.

Simpaticamente acedeu ao nosso convite, enviando o texto abaixo que confiamos não necessitar de tradução.

Daqui, o nosso abraço e agradecimentos.




LA EMPRESA ANTE LA RED*

José Luis Orihuela - Facultad de Comunicación / Universidad de Navarra - Pamplona – España


La revolución digital que ha globalizado a los mercados y está convulsionando ahora a las empresas, exige a los directivos adoptar estrategias superando el inmovilismo y evitando el despropósito.



Cada nueva tecnología impone una nueva cultura, transforma los modos de relacionarnos, informarnos, educarnos, entretenernos y hacer negocios. Sin caer en el determinismo tecnológico, lo que se aprecia en el ámbito de las tecnologías de la información es que su efecto se proyecta sobre todos los sectores y actividades y pasan a constituir parte del entorno -tercer entorno (Echeverría)- en las culturas que las integran.
Con la imprenta llega la difusión masiva de información y se democratiza el acceso a la cultura. El teléfono aporta interactividad a las comunicaciones a distancia. La radio abre el espacio de la comunicación pública más allá de la alfabetización. La televisión merced a la universalidad del lenguaje audiovisual se convierte en el paradigma de medio masivo. Con Internet se universaliza la interactividad, se fusionan los formatos de información y se confiere un ritmo trepidante a la comunicación.
Surgen nuevos actores en el escenario mediático, ya que la naturaleza de la Red supone barreras de entrada muy bajas para quienes deseen participar en ella. El ritmo de crecimiento de la Red no tiene parangón en la historia de la comunicación: el número de usuarios se duplica cada 10 meses. Habrá 500 millones de personas conectadas en el año 2003; y el 80% de los usuarios de la Red en el 2005 será gente que hoy no está conectada.



Mercado de la información



Impulsadas por la revolución tecnológica, las sociedades desarrolladas asisten a una transformación del capitalismo que pasa de la fase industrial a la fase informacional (Castells): aquella en la que las actividades de obtención, procesamiento y distribución de información se convierten en factores clave de productividad y de poder.
Los usuarios de las emergentes redes de valor añadido van a utilizarlas para comprar, vender e intercambiar información, bienes y servicios. En este entorno, lo que realmente está en juego, más que el acceso a la información, es la producción de datos y el dominio de los contenidos.
Los nuevos modos de hacer negocios en la economía-e se caracterizan por la descentralización de las estructuras, la deslocalización de las empresas, la desincronización de las actividades y la desmaterialización de los intercambios.
En la nueva economía se aprovecha el factor desintermediación que introduce la Red y se replantean las operaciones B2B (business to business), B2C (business to consumer), al tiempo que cambian los modos de conducir la comunicación interna, la logística de soporte a cliente, la investigación de mercado, y muy especialmente la publicidad y el marketing.
Los sectores que más rápidamente se han adecuado al potencial de la Red para el desarrollo de comercio electrónico, en parte debido a la naturaleza de su producto, han sido hasta ahora: ordenadores, software, telecomunicaciones, servicios de Internet, industria editorial, medios de comunicación, publicidad, música, viajes y consultoría.



¿Qué hacer?



En la medida en que todos los sectores de la actividad económica acabarán recibiendo el impacto de esta revolución tecnológica y ante los múltiples dilemas que supone para el empresario la redefinición de la naturaleza de su negocio y el perfil de su mercado, resulta recomendable:



comenzar ya y revisar los planes
Al parecer, la mayor parte de los ejecutivos se iniciaron en la informática a raíz de un presentimiento o para salvar las apariencias con el vecino. En cualquier caso son motivaciones reales y es el primer paso. Hay que convencerse de la necesidad de darlo y hay que prepararse para hacerlo. Un buen comienzo puede ser revisando el modelo de negocios de la empresa.



entrenarse y entrenar a los mandos medios
Las nuevas tecnologías, son tales precisamente por la velocidad con la que cambian. Por esta razón exigen la actitud permanente de aprender sobre la marcha para salvar las bruscas curvas de aprendizaje que cada innovación plantea. Al mismo tiempo hay que facilitar el aprendizaje de quienes tienen que ejecutar el cambio. En empresas medianas y grandes la fórmula in-house puede resultar la más amigable.



pensar diferente, pensar en grande y pensar rápido
No se trata tanto ni solamente de meter la Red y su cultura en la empresa, sino más bien de meter la empresa en la Red, no dejando de lado el negocio que se sabe hacer, sino imaginando qué otros negocios podrían desarrollarse aprovechando el capital intelectual de la empresa, así como el modo de optimizar los procesos en los que interviene la información. La Red no garantiza el éxito, pero puede mejorar la eficacia.



cuidar a los clientes y dejarles participar
En la nueva economía la gente cuenta de un modo nuevo. Los consumidores quieren colaborar en la producción de sus bienes (prosumidores). Más allá de las posibilidades de personalización de servicios mediante la configuración de perfiles de usuario, se trata de reconocer la emergencia de un nuevo poder de decisión. Como la tecnología concede poder a las personas, los consumidores desarrollan la necesidad de ejercer más control sobre su entorno inmediato. La competencia está ahora a sólo un click de ratón. Los clientes ya lo saben y será bueno que los empresarios lo recuerden.-
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*Resumen de la conferencia para el Foro de Empresarios de Valladolid celebrada el 15 de febrero de 2001 titulada: "¿Correr muy deprisa sin saber hacia dónde, o seguir esperando mientras todo se mueve? Dilemas de los empresarios ante la Red y claves de la comunicación en el tercer entorno".
texto disponível em http://www.unav.es/digilab/empresa/