CJT - Pragmática da Comunicação [I]

"a linguagem ensina a própria definição do homem"Émile Benveniste
- Capacidade do locutor para se propor como sujeito
- Unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas, que reúne e que assegura a permanência da consciência
- É ego que diz ego
- Consciência de si mesmo
[Wiki] A Subjectividade é entendida como o espaço de encontro do indivíduo com o mundo social, resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural e que vão constituir a experiência histórica e colectiva dos grupos e populações. A psicologia social utiliza frequentemente esse conceito de subjectividade e seus derivados como formação da subjectividade ou subjectivação.
A subjectividade constitui-se num espaço relacional, aonde a insistência dos modos de percepção irá instaurar a realidade.
- Consciência de si mesmo: Só é possível por contraste
- Condição de diálogo: Apenas dizemos eu quando nos dirigimos a um tu
Na linguagem, a polaridade das pessoas é fundamental
- Esta polaridade apenas existe na linguagem
- Podemos descrever esta polaridade como uma dialética e não dualidade ou antinomia
- Consequência: PRAGMÁTICA
[Wiki] Pragmática é o ramo da Linguística que visa captar a discrepância entre o significado proposicional recuperável pela semântica composicional de um enunciado e o significado visado por um falante numa dada enunciação. Estuda os significados linguísticos determinados não exclusivamente pela semântica proposicional ou frásica, mas dedutível de condições dependentes do contexto extra-linguístico: discursivo, situacional, etc.
Coerência Pragmática - Quando um texto tem que seguir uma linha de sentido, ou seja, uma sequência de actos. Não é possível o locutor dar uma ordem e fazer um pedido no mesmo acto de fala. Quando estas condições são ignoradas, constituem incoerência pragmática.
A linguagem é de tal forma marcada pela subjectividade que nos perguntamos se a subjectividade poderia existir sem a linguagem. Uma língua sem expressão de pessoa [pronomes pessoais] é inconcebível.
Os pronomes não remetem nem para um conceito, nem para um indivíduo. O eu não domina nenhuma entidade lexical.
A que se refere, então, eu?
O eu refere-se a algo muito singular: ao acto de discurso no qual é pronunciado e designa o locutor desse acto.
Portanto, ao contrário dos outros elementos linguísticos,
- O eu apenas pode ser identificado dentro do acto de fala
- É pelo discurso, pelo exercício da língua, que o sujeito se constitui como tal - não existe subjectividade sem linguagem
- Pela forma como é organizada a linguagem, qualquer locutor pode apropriar-se da língua toda designando-se como eu.
[Wiki] A teoria dos actos de fala teve o seu início com os trabalhos do filósofo inglês John Langshaw Austin (1911-1960) e foi levada adiante por John Roger Searle (1932-) e, de certa maneira, por Jacques Derrida (1930-2004). Austin faz parte da escola de filosofia analítica de Oxford, cuja fundação é atribuída a Gilbert Ryle, mais especificamente ao seu texto Sistematic Misleading Expressions, e o factor que caracteriza os filósofos desta escola é a análise minuciosa da linguagem, na verdade da linguagem ordinária, ou seja, sob uma interpretação literal. Isto diferencia-os, por exemplo, dos estudiosos do Círculo de Viena, cujos estudos sobre a linguagem se limitavam àquela usada pela ciência.
A filosofia preocupava-se, tratando-se de linguagem, somente com os enunciados descritivos, isto é, aqueles que descrevem estados de coisas no mundo. São estes enunciados que Frege, Russell, os pensadores do Círculo de Viena e outros estudaram exaustivamente, até o segundo trabalho principal de Wittgenstein demonstrar que a linguagem não se limita a estes enunciados e nem pode ser reduzida ao próprio código linguístico; antes, a linguagem também depende fortemente de convenções sociais de várias ordens. Este trabalho de Wittgenstein lançou a noção de “jogos de linguagem”, que são as configurações necessárias para que um enunciado seja interpretado da maneira pela qual o seu enunciador pretende que ele seja. Este “segundo” Wittgenstein, apesar de carecer sobremaneira de uma sistematização, tem, no entanto, como grande mérito abrir estas questões para que outros filósofos as tratassem de uma maneira mais sistematizada e coesa, passando agora o sentido de um enunciado a ser mais relacionado do que nunca com o uso que se faz dele numa determinada situação.
Austin trabalhou nesta perspectiva e as suas teses encontram-se, principalmente, nos textos OtherMinds (1946), Word and Deads e How do to Things with Words (publicadopostumamente em 1962) e elas versam sobre os usos da linguagem, principalmente sobre a interpretação de questões, exclamações, comandos, ou seja, sobre enunciados que não são unicamente descritivos.
A par do tu e do eu:
- demosntrativos
- advérbios
- adjectivos
como indicadores da deixis, ou deícticos, que organizam as relações espaciais e temporais em torno do sujeito.
- Isto, aqui, agora
- Isso, ontem, no ano passado, amanhã
Estas classes têm em comum definirem-se apenas com relação à instância do discurso na qual são produzidos, sob dependência do eu; Mesmo nos verbos que indicam passado, a referência será sempre o presente, isto é, o tempo em que se fala.
Se a linguagem é a possibilidade da subjectividade, o discurso provoca a emergência da subjectividade:
- "Eu sofro" - Descrição do meu estado presente
- "Sinto que o tempo vai mudar" - Descrição de uma impressão que me afecta
- "Creio que o tempo vai mudar" - Afirmação mitigada: converto numa enunciação subjectiva um facto, isto é, "o tempo vai mudar", que é a verdadeira proposição
[Wiki] De acordo uma das leituras possíveis, discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflecte uma visão do mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).
Texto, por sua vez, é o produto da actividade discursiva, o objecto empírico de análise do discurso; é a construção sobre a qual se debruça o analista paraprocurar, à sua superfície, as marcas que guiam a investigação científica. É necessário porém salientar, que o objecto da Análise do Discurso é o Discurso.Contexto é a situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com ele se relacionem. Pode dizer-se que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor como do receptor — e a análise destes elementos ajuda a determinar o sentido. A interpretação de um texto deve, de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social e histórica e, a partir disto, situar o discurso como compartilhando desta identidade.
Uma ordem de discursos é um conjunto ou série de tipos de discursos, definido socialmente (Foucault) ou temporalmente (Fairclough), a partir de uma origem comum. São os discursos produzidos num mesmo contexto de uma instituição ou comunidade, para circulação interna ou externa e que interagem não apenas entre eles, mas também com textos de outras ordens discursivas, (intertextualidade). A sua importância para a Análise do Discurso está em contextualizar os discursos como elementos relacionados em redes sociais e determinados socialmente por regras e rituais, bem como modificáveis na medida em que lidam permanentemente com outros textos que chegam ao emissor e o influenciam na produção dos seus próprios discursos.
O universo de concorrências ou mercado simbólico é o espaço de interacção discursiva no qual discursos de diferentes emissores se dirigem ao mesmo público receptor: por exemplo, diferentes marcas de cerveja apelando ao mesmo segmento de mercado (homens entre 20-45 anos, classes A/B, solteiros). A concorrência ocorre quando cada um destes discursos tenta "ganhar" o receptor, "anulando" os demais ou desarticulando os seus argumentos ou credibilidade em seu próprio favor. O modo de interpelar o receptor definirá as características do seu discurso (posicionamento competitivo) e determinará o seu êxito ou insucesso.
A contextualização de um discurso é dificultada por, fundamentalmente, três items: a relação de causalidade entre características de um texto e a sociedade não é entre dois elementos distintos A -> B, um causa e outro consequência, mas é dialética, ou seja, a continência de um pelo outro é uma relação contraditória. Pelo mesmo raciocínio, os discursos (esfera da superestrutura) não sofrem apenas os determinantes económicos (esfera da infraestrutura), mas também culturais, sexuais, etários etc..
O não-imediatismo da passagem da análise semiológica para a interpretação semântica, ou seja: não basta demarcar e classificar as palavras para imediatamente interpretar os seus significados. É preciso considerar o máximo possível de variáveis presentes no contexto.A teoria do Discurso Estético parte do princípio de que, se a imagem também é um texto, e há discurso das imagens, não apenas semântico, deve haver discurso estético, sintático, perceptível não logicamente, mas esteticamente.
Teoricamente, há estética em tudo. Todas as formas existentes são passíveis de percepção estética -- logo, de apreciação e informação. Por isso, o que falamos pode ser chamado de um “discurso estético” ou discurso das imagens, que se dê pela percepção estética, não-lógica, de determinados valores ideológicos inculcados e identificáveis por meio das suas marcas de enunciação e interpelação. No caso das imagens, tais marcas podem ser encontradas, entre outros modos, por meio da Análise da Imagem e das leis da Teoria da Percepção.
É possível, por exemplo, analisar linhas de formas, texturas, cores, nas imagens produzidas por uma sociedade, uma instituição ou um período e, a partir destas marcas, encontrar formas de interpelação (posicionamento e poder) e valorizações de determinados conceitos que são fundamentalmente ideológicos.
A idéia do discurso como “transmissor” de ideologia é aplicada às formas de Arte e de Comunicação Visual mais recentemente, em virtude da evolução das relações de produção, que vêm distanciando quem cria de quem produz.
Na história da feitura de artefatos (fabricação de objectos e obras de arte), a produção deslocou-se da união designer/produtor para a gradual separação entre esses dois agentes. Antigamente, um artesão era ao mesmo tempo o projectista e o fabricante de um objecto ou uma obra. Já no contexto da produção industrial, o profissional que aplica valores estéticos aos objectos que serão produzidos (designer) não é o mesmo que os executa. Assim, indaga-se se é ele quem cria e determina esses valores estéticos, ou se eles já lhe são passados, pelo ambiente cultural, ideológico ou económico.
Por exemplo: se os cartazistas russos do período revolucionário (1917-1922) utilizavam praticamente só as cores preta e vermelha, isto era uma condição imposta pela economia de guerra, que não dispunha de variedade de tintas, ou era reflexo de um discurso ideológico extremista que defendia altos contrastes e opostos bem definidos, desprestigiando nuances e meios-termos?
Ou, por outro lado, o estilo Barroco da Contra-Reforma católica dá ideia de riqueza e opulência, fazendo frente à austeridade sombria da estética protestante, que pregava a não representação (abolição do culto às imagens de santos etc.) e a ascese.
Embora não seja fácil definir qual é a relação causa-e-consequência do fenómeno, o certo é que os valores estéticos impregnados num trabalho e o ambiente ideológico estão intrinsecamente ligados, produzindo discursos muito mais do que verbais. Assim, é possível encontrar discursos estéticos nas instituições (aparelhos ideológicos do Estado, segundo Althusser, ou aparelhos de hegemonia, segundo Gramsci), dentro do que se considera "cultura", e pode-se considerar a actividade de comunicação visual como produtora de estética.
O que se propõe como Discurso Estético para as imagens vale igualmente para a Música, a Poesia, a Literatura e outras manifestações estéticas.A proposta de um novo objecto chamado "discurso" surgiu com Michel Pêcheux na França, em sua tese "Analyse Automatique du Discours" em 1969. Na época ele trabalhava num Laboratório de Psicologia Social e sua ideia era a de produzir um espaço de reflexão que colocasse em questão a prática elitizada e isolada das Ciências Humanas da época. Para tanto, ele sugere que as ciências se confrontem, particularmente a história, a psicanálise e a linguística. Este espaço de discussão e compreensão é chamado entremeio, e o objecto que é aí estudado é o "discurso". Assim, é no entremeio das disciplinas que podemos propor a reflexão discursiva.
Contemporaneo a Pêcheux está Michel Foucault, também na França, e também incomodado por questões semelhantes, mas propondo uma outra via de compreensão, a que ele também chama "discurso", por exemplo em "Archeologie du Savoir". O discurso de Pêcheux não é o discurso de Foucault. E se pensarmos na tradição anglofona a distância aumenta, porque o discurso de Norman Fairclough também não se aproxima das questões francesas. O que temos são vias, diferentes possibilidades de compreensão de um problema posto diferentemente por cada autor. O que significa que não há uma "teoria" mais aceite actualmente, mas sim caminhos teóricos que respondem e correspondem em parte às necessidades de reflexão que se apresentam.
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