CJT - O Ensino da História

História


ALGURES ENTRE HEGEL E POPPER

A necessidade de uma cultura histórica advém da possibilidade de serem estabelecidos parâmetros de conduta social que vão sendo aprendidos pela análise do passado. O estudo da história, se bem que impregnado de algum romantismo dado pelo carácter de um ou outro autor, é essencial à formação do Homem. A memória serve-nos de bitola para podermos determinar objectivos e estratégias, à falta de uma outra ferramenta que se possa considerar exacta para tal.
Não podemos, ainda assim, considerar a História como a forma preferencial de determinação do curso da Humanidade. O tempo anda para a frente e, embora o presente histórico seja ainda indeterminado e o seu passado seja um dado adquirido, estes dois não podem, não devem tolher o curso dos tempos, mesmo correndo alguns riscos. Sabemos que em determinada ocasião aconteceu assim, neste contexto. Não sabemos com toda a certeza se tal acontecimento será cíclico, se voltará a repetir-se, mesmo em contextos semelhantes. O tempo prega-nos partidas e, como digo, é inexorável.

Não considero, no entanto, que o estudo da História seja algo vago. É um estudo que se quer objectivo e, embora limitado pela quantidade de informação que se consegue obter e mesmo pela interpretação diferente de cada um dos autores em relação a determinado objecto, oferece-nos uma real oportunidade de crescimento intelectual e um acumular de informações acerca da ancestralidade que nos permite, sem sombra de dúvidas, que a cada momento possamos ajuizar acerca de uma ou outra opção a tomar e, importante, exercer julgamento sobre determinados períodos, pessoas, actos, que pareceram ser os mais ou menos correctos num presente histórico de outros e que, bem vistas as coisas, acabam por se tornar noutra coisa qualquer.

A REALIDADE PÓS-INDUSTRIAL

A época capitalista e globalizante que vivemos trouxe-nos a necessidade de vivermos num mundo múltiplo de referências policulturais. Fragmentou-se o tempo e a realidade em mínimas parcelas, a Comunicação e as Indústrias Culturais ganham importância crescente nessas fragmentações. A História passa assim a ser vista como um contraponto à incapacidade da explicação científica e reveste-se, por assim dizer, de alguns laivos da explicação hegeliana, embora imbuída de alguns traços positivistas conferidos pela pós-modernidade.

Sabemos que tal não é mais que uma falácia. A História presente é cada vez mais deturpada pela hiperinformação que tenta a todo o custo fornecer análises em "tempo real" de situações que, pela sua complexidade, necessitariam de uma geração para amadurecer o juízo e a interpretação da realidade analisada. As recentes técnicas de informação e comunicação permitem o acesso constante a dados e referências das mais variadas vertentes deixando o estudo académico depauperado.

Não se aprende história nas escolas, pelo menos da forma como esta deveria ser ensinada: de uma forma com tempo, com espaço de aprendizagem, com alma. A História que se ensina nas escolas, especialmente no ensino básico e secundário, é apenas um resumo apressado de "coisas que aconteceram aos velhos". Não ensina os estudantes a tornarem-se eles Velhos de Conhecimento. Não os ensina sequer o supremo gosto de tentarem encontrar dados, de os cruzar e interpretar e, de igual modo, de os comparar com o presente histórico e extrapolá-los para um futuro que é deles.

Remete-se assim o ensino da História para os vídeos e filmes, para Códigos e Códices, para "300" e outros que tais. A História Pop em toda a sua plenitude, a batalha de Levante pintada por Wharol.

Talvez seja por isso que Salazar seja uma figura de moda, talvez seja por isso que Hitler tenha tantos posters vendidos, talvez seja por isso que temos políticos que não têm problemas em dizer que a Coreia do Norte dificilmente não será uma democracia ou que George Bush é um baluarte desta.

Talvez seja por isso que ouçamos e acreditemos, nem que logo de seguida nos digam o contrário para acreditarmos também.

E é por isso que compreendo o excelente post do Paulo Guinote, "O Fim da Memória e o Desejo do Homem Novo", sob o mote de Georges Steiner, "Hoje, a nossa escolaridade é de amnésia amplificada".

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